segunda-feira, janeiro 09, 2006

Lágrima de Ouro

Não lute, burusso, pois te digo que venci.

Observo daqui. Do alto. Minhas construções que têm um caráter frio e unicamente mecânico. Elas são complexas e suntuosas. Todos eles, amigo, as desejam. São argúcias que chispam excessivamente ungidas, soberbas, sobre rodas ensangüentadas. Lembram algum tipo de biga voando, assim, com essa incontrolável velocidade. Quem assiste não delira, apenas espera. É, é o exigido para todas as circunstâncias. É, é um desejo incandescente que vibra em todas as mentes. Um inusitado impulso de que tudo se acabe para que se possa sair logo daquele espaço, pois, o perigo, é iminente. Só que tudo, como esperado, não passa de um prenúncio. Um sonho mal. Uma fantasia desagradável que não tem fim.

Essa incoerência sempre exauriu, esgotou e venceu. Um fluxo empobrecido nos homens que despeja até a sua última gota, secando-os. Massacra a todos extenuando-os em execuções rigorosas. Ninguém tem culpa, tranqüilize-se, amigo, pois tudo está, definitivamente, perdido.
Meu engenho foi polir o espelho e por isso sei que seu caminho, amigo, retrocede. Você quer ser um mundo mas é apenas um indivíduo. Um mundo, sim, mas pobre, solitário e equivocado que insiste em orar ao Senhor e pedir na esperança de vir a ser atendido. Mesmo assim tem forças. Confia. Sente algo, assim, familiarizado com a paisagem que volta, que se repete, que se reprisa e se exauri . Você é de frente para trás, amigo, e me confere constantemente a razão para que eu preveja. Surpreende-se quando antevejo o já visto e compreendo, num relâmpago, seus previsíveis próximos passos.

Obtém as condições para perscrutar os seus caminhos retrocedentes que são estradas de um passado, de uns caminhos circulares e enfadonhos, reprisando sempre a mesma paisagem que vem a seguir e a seguir, e que, aos seus olhos esquecidos e inebriados de esperança, parecem novidades. Anda com passos decorados, planejados, olhando para todos os lados sem nada encontrar de verdadeiro, respira os restos de um fôlego anterior. Tudo para você, amigo, é passado, pois roda incessantemente e a velocidade espanta o aqui e o agora, mas te leva rápido para o indesejado revisitado e, então, você roda e assim vai e assim retorna e de novo repete o mesmo anseio e já não lembra e, então, anseia e assim retoma as seqüências. Que Deus te abençoe, amigo, mas vou avisando que você esta definitivamente em minhas mãos.

Sou o novo dono de seus pés.

Você tem uma vida, gratuita, para apreciar todas as coisas e mesmo assim necessita de minha permissão. Minha observação é tênue e se entrelaça com sua parca covardia. Você só se sente bem diante do já conhecido, do seguramente previsto, da mesmice que carrega em seus olhos que enxergam um filme projetado que vem de dentro de si próprio. Você não sabe vadiar, cantarolar, apreciar porque é como os pombos correios viciados em apenas chegar. Você deveria obter a prática do crescimento em si próprio! Mas, com essa falha, eu te podaria de qualquer maneira para que nunca viesse a dar frutos.

Saia, então, em disparada e apenas pare quando for espreitar. Aguarde. Observe. Transgrida os sinais do bom senso que pretendem unicamente te orientar, não respeite os códigos, infrinja as leis, retruque, retoque seu calcinado caráter com algum tipo de tóxico. Desobedeça, viole, transgrida, desrespeite aqueles que encontrar, acelere. Espante. Não só me alegro com isso, como festejo tão apropriado episódio de dor. O preço que você paga é alto, não se aflija, eu o estou parcelando. Não arrefeça, arremesse sua máquina incandescente contra seus semelhante pois a fragilidade caracteriza a posição em que eles se encontram. Essa fragilidade, no momento, é diferentemente da sua. Não apele para sua consciência pois, eles, já são meus. Me pertencem e anseiam por ocupar o lugar que, agora, é seu. Mas esse é o seu lugar agora, um privilégio por sua condição luzidia. Mas quebre, amigo. Despedace, abata aqueles que em breve te usurparão. Sem dúvida. Anule-os, desabilite-os, diminua as chances que você tem de perder diante das chances deles de ganhar. Atropele, contrarie, descumpra seu dever. Desobedeça, ofenda, cometa seus pecados, postergue todas as soluções possíveis para um acerto. Profane, quebrante, quebrar de vidros, rompa os padrões de sua natureza.
Transpasse o seu igual.
Ah!