domingo, março 04, 2007

"Corporificação Tostante"


Nu, creio, quer dizer "exposição". Tanto de quem vê, quanto de quem é olhado. Em termos de arte, e só sob esse sistema de palavras, concordo que suas partes divinas estejam de fora, relentadas, a amostra. Pelo que observo, em termos de nu, olhando vejo que está vestida, mesmo nua. Sem visibilidade, descaradamente pudica, e o que é pior, enganando-me. Os véus de sua incerteza são como faróis coloridos de vermelhos chocantes e de amarelos irídios, piscando, denunciando sua retração, suas dúvidas, sua vontade de ser fêmea e mostrar-se sem que alguém a veja.
Seu nu seria sem fronteiras, arábicas, mosaicos diante dos alísios.
Minha imaginação solicita o seu nu para as próximas coleções de monotipias azuladas. Rabiscando tudo que é ou o que deixa a imaginação ir sobre coisas vãs, delas, as 14 aquarelas enfunadas, quatro serão afrescos arremetidos para as paredes de seu chalé construído de frente para o oceano.
De fato não existe esse nu. Não perca o barqueiro que a transportará para o outro lado do rio que corre no sertão de sua propriedade. Aqui dentro do santuário corpóreo poderei transformar essa maravilhosa experiência em painéis, esculturas, jóias, objetos e textos sagrados. Para isso basta você sentir o que está olhando, deixando sua pele morena e salgada para depois. Todos dirão linda foto. Obrigado. Sei que participei.
Sei que seu olhar muda um pouco a cada dia, depois que falamos. Depois que se mostra sob o jato do regador.
(Luiz Carlos Rufo - trecho de Navegando em sua nudez)