sábado, junho 21, 2008

Como eu diria...?!

"Como posso falar sobre Suíte Marinho se alicio e atraio? Como dádiva da criação a suíte se dirige até mim dispensando-me das formalidades que uma empreitada dessas me solicitaria. Atrevo-me a dizer como um alguém falaria da beleza de um clarão resultante de descargas elétricas. Sei que não posso alcançar os motivos a não ser entre duas nuvens; nem posso avaliar as conseqüências de um pintar em brevíssimo período de tempo. Não falo, portanto.Insiste e me pede novamente para falar em quanto vejo combinações de cores para exercer a arte de minha pintura e nela os primeiros sinais do fazer ficar branco aquilo que se insinua e que permanece. Como explicar? Como sugerir o que se volta e se estende mais do que o normal e que não são linhas, e que não são volumes? Iludo-me quando pede-me só para falar sobre isso quando deveria saber cantar. Exprimir-me por meio de palavras em um discurso sob efeito da gravitação onde o tema coloca-se ao centro de influência, onde percebo o sabor da história e sua infinita seqüencialidade que se deve tomar em consideração com mau humor, onde pretendo cantar muito e em voz alta. A arte se faz em blocos históricos consecutivos e esse resultado representa a força que está, em um dado momento, no mesmo local ou recinto. As personalidades vertem conteúdos, o espaço credita vivências, há fluidez de verdades que existem ou sucedem-se no tempo extenso ou nos minúsculos períodos em que se fala. A pintura capta com solidez e manifesto enquanto a palavra com viscosidade de um fluido. Suíte Marinho é tudo isso em aparências generalizadas de pessoas prisioneiras de seu porte, condenadas indefinidamente a sua figura. Suíte Marinho é aquilo que desce movimentando-se elegantemente no espaço em
detrimento do que sobe estabanadamente expondo suas partes mais altas para uma mais baixa, escandalosamente. Sugere os encantos da vida e seus fortúnios. Explicita também os enganos. Não se fala sobre esses temas quando se tem as lindas canções mais abaixo em seu divino repertório."



depoimento de Rufo resumido por Taís Wonder Grimme
foto de Mira Serrer Rufo