segunda-feira, janeiro 23, 2006

"Através de Rabiscos Coloridos"

“Ela rabisca desde que era menina descobrindo aos poucos que o mundo não se parecia em nada quando visto através de suas profundas interpretações, ela própria se interpretava achando graça”.
O dia-a-dia incentivava-a, ensinava-a a observar e ver sem olhar, olhar o pôr do sol com a ponta do nariz e memorizar o que achava que via para depois pintar, desvairadamente através de rabiscos coloridos. Usava não apenas lápis de cores nessa época mas também restos de coisas que podia alcançar como por exemplo a pata da gata levemente molhada. Ela que conta, lembrando de sua própria unha, e disso nunca esquecemos, que se pudesse viveria às turras com um possível e provável professor de desenho. Não aceitava nota de quem quer que fosse pois desenhar era para ela um sabor adolescente de sua alma, pintava todos os riscos que as paredes proibidas exibiam. Uma pessoa sonhadora e romântica! Diziam. Insistentemente paciente pela busca do por de sol azul, riscava um vermelho, um verde de suas belíssimas coleções de traços decorados e rococós. Mandava mergulhar as pontas secas no ouro do pote para reproduzí-lo, misturá-lo e jamais entender às minhas insistentes súplicas: “Os dizeres eram caros demais". Hoje trabalhar com essas coisas de ver é viver cercado da matéria que se esconde, de pintura enegrecida, papéis especiais para tornar a ser, livros para ver e gente por todo os lados. Temo uma pequena apalpadela de sua mão que é pequena no tamanho, quente, sensata, mas um ícone ascendente na região que usamos para imaginar. Essa mão dourada que presta socorro como se procurasse livros de se vislumbrar e que não são achados, aconselhados ou mesmo comprados. Se ela explicar os frutos de seus usos e abusos de um simples rabiscar, teme, com carinhos especiais advindos de longe pelos que lhe são caros. O mundo tem nome e fica ali todo mundo sabe.