sexta-feira, março 23, 2007

"O Coelho"

Tenho pressa de chegar!
Ao passo que se me atentar a obra esqueço as urgências que dela emanam, esqueço seus compromissos, esqueço sua beleza sedutora, esqueço-me e aprofundo-me no fazer contínuo e monótono que são os atributos verdadeiros, relativos aos movimentos e às forças essenciais para quem produz, para você que produz, para eu mesmo. Não se pode responder a questões formuladas ao vivo e na sua frente, na frente de quem questiona, sem que a ilustremos com exemplos não sucedidos por nenhum outro de seu gênero. Por exemplo, nesse atelier, é necessário rapidamente apontar com o dedo as obras encostadas aqui e acola, designando-as a valores relativos para que incorporem significados do momento e traduzam seus pesares e os de seu produtor. Essa é, creio, uma das mais nobres funções da obra de arte, produzida por artista, inserida em significação rigorosa de sua palavra constituida, de sua aparência mutavél, de sua privação, voluntária ou não, de falar abertamente de sua história, de seu gozo ou de seu padecer. Portanto, respondo aos questionamentos para com o tempo de obra e de mercado dizendo, que apenas no meu caso, o coelho passeia.
Perguntar e atentar para as respostas são os desafios primeiros de um encontro, enriquecidos por detalhes de mãos que, ao responderem, desenham suavemente no ar a resposta esperada, contrariando a boca que se esforça para apreender fragmentos, iluminações e construções que determinam as relações formais que interligam-se na sintaxe. Porém, basta olhar os pequenos exemplos, sem pressa de chegar, para constatar-se de que o objeto de discussão se encontra ali, antecedendo ao tempo, com todas suas prerrogativas, o que é regalia adquirida, um privilégio que possue-se ao natural, pois representam uma determinada classe de respostas engendradas na imagem e que encontramos na arte de fazê-las, mas só quando nela passeamos de braços com o coelho.

Trecho da entrevista com Luiz Carlos Rufo realizada por Taís Wonder Grimme
Tema: Arte do Mercado
Árvore 637 – março de 2007
leia a entrevista na integra que será publicada no blog da árvore.

Fotos de Mira Serrer Rufo

2 Comments:

Blogger Rubi said...

:)

5:44 PM  
Blogger Unknown said...

tempo tempo tempo...cada um no seu tempo... isso é mágico!

4:35 PM  

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