"Do abstrato ao brotamento de figuras"

"Uma Janela Diferente" - reverência ao sagrado/barroco

Construindo "Solanas nas Nuvens"

Preparo uma entrevista sobre Luiz Carlos Rufo, para uso de divulgação no mercado de arte internacional, falando exclusivamente da produção de técnicas mistas sobre cartão. Técnica iniciada nos anos de 1980 e que veio demonstrando inovações e inusitadas maneiras de aplicação já no final dos 90. A obra de Rufo é multifacetada em técnicas, temas e materiais. Essa maneira de trabalhar, ao mesmo tempo que encanta pela diversidade, e pelo fato de conter vários Rufo convivendo lado a lado, as vezes até com muitos antagonismos, cria uma verdadeira dificuldade e intransponibilidade no conjunto da obra e seus diálogos estéticos. Parece-me, a principio, que existe aí um propositado recurso do artista para afastar especuladores de plantão, marchands negociantes e pesquisadores – meu caso. Um caso marcante para a técnica, que trato em particular, ocorre com as coleções barrocas onde as misturas de guache, tempera e ecoline sugerem graves naves religiosas habitadas por entes do bem e do mal em um eterno dialogo; em eterno silêncios; em lascívias intermitentes. A coleção “Arvore 637” – uma caixa com 637 técnicas mistas (hora chamada de aquarelas pelo autor, talves num jogo de complicações) dá mostras de encerramento do ciclo que teve momentos importantes como é o da coleção “Solanas nas Nuvens” de 2004/5 e a, espetacular, coleção “Uma Janela Diferente” de 2003.

Taís Wonder Grimme
Fotos/Mira Serrer Rufo