"A beleza das eudoras"
Não quero trabalho;
Não quero cigarro;
Não quero carro;
Vivo meus pés!
Eu pintará sem encontrar o que em mim era tão natural, e em um tempo tão extenso que me desconheci sem compreender aquele comprimento de onda que faz parte dos espectros visíveis, capaz de produzir no olho uma sensação característica, mesmo sendo todas as tonalidades pendentes para o amarelo. Ela tem os cabelos escorridos como os de uma égua que conheci um dia. Vão escorrendo, deixando as pontas das orelhas a amostra, até sumirem em poucos fios.
Com a impressão cansada daquele amanhecer, refleti na feitura de um café reparador, minha única esperança até então. Ela e sua beleza formavam um par. De mãos dadas mas não únicas. Como se fluíssem de fontes diferentes e por um único motivo secreto encontravam-se, uniam-se, formando aquilo em que em mim doía. Sempre cheirando a qualidade, destacando-me nas propriedades e no que havia aprisionado dela. Ela de um caráter arrebatador, sempre simples, me parecia, as vezes, meio menino dos excertos romanos, comendo aquele pão com manteiga sobre o balcão da padaria (aquilo eram modos?) e falando, sempre ao mesmo tempo. Um jeito de cair dos cabelos, um vítreo de seu olhar claro. Rubina, essa seria uma virtude do que é belo? Pois a beleza é maléfica, eu sei. O doce é uma manifestação característica do belo, doado. O caráter do ser que porta, por castigo, a beleza é, ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, pura admiração ou prazer medonho de calor e arrepios, de ardor de um logo tapa. Ela, que bela, através de sensações visuais me encanta, salivo em ondas gustativas; Mozart em aulas auditivas; os “Peixes” minhas pinturas, suscitam a admiração e deslumbram-se em olfativas: hum, hum, hum.Os sentidos, que se expunham diante da duvida, arriscávamos observando-os em chamados angélicos. Os sentidos químicos dos doces que ela comia, desrespeitando a ordem de seus receptores, eram tão excitados, tão estimulantes, que duvidava não serem arquitetados. Eu sempre repetia para ela, Rubina na superfície de sua língua que minuciosamente explorava reluziam dezenas de papilas, queria de perto aqueles alimentos do ar. Esses sentidos deixava-os trabalharem em prol de minhas poesias conjuntamente com a percepção de seus sabores ancestrais. Rubina quando fala, declama. Seus gestos estão no centro de meu olfato, sua mão bailava o gosto impresso em meu cérebro iludido, combinando as informações sensoriais, criando, mas tudo não passava de sua língua em meu nariz. Rubina, Rubina!
Luiz Carlos Rufo – trecho de “A beleza das eudoras”
4 Comments:
Rufo,
musa? devaneio? pura inspiração? tenho de entender?
dificíl, mas tão fácil de se gostar!! melhor, de sentir todos os sentidos!!
Amplexo de parabéns da fã
Clarice
Daqui das Asturias me falta portugues para essa viajem...cassete Rufo, que lindo!
Joshua Barrios
(me escreve, cara!)
Essa chaise long está a venda??
Ela é uma de suas esculturas fantasiadas de literatura?? Tu fica dando nó e não esclarece, tchê.
te liga! demais de grande
Tuca Adrés
Rufo
Adorei o quadro e quando começei a ler o texto...Rubina...LOL...Parabéns. A sua personagem tem semelhanças comigo embora também tenha divergências.
Abraço
P.S. - Estou curiosa para ver o livro :)
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