domingo, maio 20, 2007

"BARCOS"




Não vejo meu barco em seu porto, apesar de fundeá-lo em seus arredores constantemente.Tenho astrolábio na mão, tenho cartas altimétricas, tenho a posição dos astros e sinto a brisa que bate. Admiro-me da natureza humana, sempre imprevista, pequena e apaixonante. Guio-me, portanto, por cartas, esquemas e pequenos decretos que instituo daqui do trono em que me sento e que ocupo, rico e cobreado, com o sol pela direita, com estrelas no espaldar. Um leão proteje meus pés da umidade de certas palavras. Um cão, sempre fiel, dá-me a noção do que é amor.
1º estudar o local - Devemos conhecer ou pela prática ou por uma carta náutica/poética o local de portos de outrem onde fundear, é sempre bom, ou seja, o tipo de fundo filosófico, altura da sonda das emoções, condições atmosféricas e de mar lingüísticos, a previsão das marés vindas de lá, delas, e se existem outras embarcações já fundeadas, amores. Convém ter sempre uma alternativa no caso da manobra falhar, ter saudades, ou não resultar. Devemos escolher fundos de areia ou lodo e não muito altos, e esculpir com pedras achadas. Daí olhamos o que se pode desenhar; 2º preparar o ferro - Um tripulante à proa, camisa branca e boné, com o ferro preparado para largar. Amarras sem tropeços e convés limpo de modo que não haja impedimentos à saída ou a dança. Talvez seja necessário acrescentar a boia de arinque, ou sanduiches com sucos leves; 3º aproar ao mais forte - Quando se aproximar do local, aproado ao mais forte, vento ou corrente, retire motor e arreie a vela de proa - e a grande se aproar à corrente; 4º arrear o ferro - À ordem do comandante, quando o barco começar a andar à ré, deve descer (não atirar!) o ferro até tocar no fundo. Soltar devagar a amarra de maneira a facilitar, com o peso que o barco exerce, o unhar no fundo.Normalmente larga-se 3 a 5 vezes de amarra em altura do fundo em condições normais. De 5 a 7 vezes de amarra se houver previsão de "tempo" rijo; 5º verificar a posição Depois de amarrar o cabo num cunho é altura de verificar através de pontos de referência fixos na costa se o barco não descai. Não se esqueça de prever a eventual rotação se o vento ou maré virar. Somos bons, somos amigos.
Sei que meus exercitos não marcharam essa noite; que poucas fogueiras, postas aqui e ali, queimarão; vejo cabanas calmas, cavalos, brisa leve com cheiro de espigas de milho fervendo em água, um céu nobre. Tudo isso é calma por agora.
Luiz Carlos Rufo

sexta-feira, maio 18, 2007

"Sebastianas"



A arte conceitual é aquela que considera a idéia, o conceito por trás de uma obra artística. como sendo superior ao próprio resultado final, sendo que este pode até ser dispensável.
A partir de 1960, essa forma de encarara a arte espalha-se pelo mundo inteiro, abarcando várias manifestações artísticas.
Um trabalho de arte conceitual, em sua forma mais típica, costumava ser apresentado ao lado da teoria. Pôde-se assistir a um gradual abandono da realização artística em si, em nome das discussões teóricas.
O uso de diferentes meios para transmitir significados era comum na arte conceitual. As fotografias e os textos escritos eram o expediente mais comum, seguida por fitas K-7, vídeos, diagramas, etc.
Os artistas não se incomodavam em evitar as trivialidades, em criar elementos que tornassem interessantes suas composições ou realizar composições agradáveis ao olhar.
Alguns artistas iam mais longe, afirmando que essas imagens triviais poderiam refletir a própria superficialidade de quem as observa.
Os pacotes de Rufo, realizados e guardados desde a década de 1970, valorizam a arte de riscar e encerram valores para a construção de uma arte prodigiosa, arte como trabalho e realização, a arte sem teoria voltada ao conteúdo, arte especular e anti conceitual que abomina o raciocinar, que não é dada a refletir ou a teorizar. Os desenhos contidos nesses “pacotes” transmitem uma arte que não nasce na cabeça de seu criador.
Tais Wonder Grimme

"A arte"

)Sobre a maneira das pedras(
“Ganhei uma pedra trazida da Acrópole de Atenas é a mais famosa de todas as acrópoles, porosa e amarronzada, como uma cocha de frango gigante, quando a aceitei virei um fugitivo; do chão do santuário, hoje museu, de Santa Sofia – Istambul - a cidade – uma pequena lasco do piso sagrado, não mais que 15gramas de pedra, foi subtraída – a pessoa de nome impronunciável fingiu amarrar um dos sapatos e acondicionou a pequena lasca solta do piso dentro da meia, pedrisco esse que depois foi recebido por mim que passei a orar em árabe buscando o perdão; um pedaço de pedra sabão que poderia ter sido de José Antônio Lisboa ou de alguém que ingressará na confraria de S. José dos Pardos no ano de 1774, arrebatou-me um suor ao ouvir a afirmação de que aquilo, aquele pedaço histórico e sem valor de moeda, me pertencia. Quero defender-me e dizer rapidamente que não trabalho assim, não vivo para esculpir assim, prefiro as pedras moles.”

)Sobre a maneira das ferramentas(
“Depois que gastei minhas reservas em 1976 comprando um arco de pua manual com brocas de diversos tamanhos percebi que ali, nas ferramentas, algo se escondia. Algo que não conseguia ver transitava e se insinuava sobre aquela ferramenta brilhante, metade ferro, metade madeira e minha depois. Paulatinamente, sobre todas as outras que encontrei pelo caminho, de outros donos, aquelas emprestadas, as de alta tecnologia, as artesanais ou as fora de uso pairava tal sombra. Em todas as ferramentas repousa o objeto construído, lindamente, por mãos escravas. As ferramentas estão por toda parte, pode olhar!”

)Sobre a maneira de vender obras(
“Do antropônimo árabe al-F’ar’abi, filósofo que viveu no século X, tornando símbolos do que é ... Mercador ambulante, que percorre as cidades, povoados, ... Al Farabi foi o maior filosofo muçulmano antes de Avicena, escreveu um tratado de alta espiritualidade e nobre sentimento.

Luiz Carlos Rufo

"TICIANO"

Acho que encontrei o grande benfeitor da humanidade.
Encontrei-me hoje “Tocam sinos” com o homem dos pés descalços, seja qual for a base histórica que se me apresenta, acatou-me vontade de fugir. Pareceu-me, a principio, não vê-lo, mas quando vinha ao longe, por sua sombra esfarelada e azul, sabia tratar-se de tal pessoa, pois assim são os que lhe parecem os que de lá vêm. “Tocam sinos”. Hoje, pensei, mesmo ao longe me vê pois flutuava uma orla oriental em seu rosto e a alegria de saber que daqui eu o olhava, com vergonha, refutatório. Lá vem ele “Tocam sinos” e traz na alma restos de um desejo, anteriores a nossa amizade. Sendo homem ou mulher, porque lembrou-se de mim a esta tal distância? Não seria pois motivo de idade que de longe não avistasse, já que vinha chegando de fora, esse, aqui, velho amigo? São rosadas as migalhas da lembrança feliz só porque algumas deusas criaram motivos para terem suas belezas julgada por tal pastor? “Tocam sinos” e sonho violeta é dificil de se achar o que dizer então de poeiras estelares azuis nas vestes pictóricas de Ticiano, pela mão de uma artista encarnada, relatado antes em "Assunção da Virgem", considero-o por isso “Tocam sinos”. No intervalo de sua chegada, que muito pouco durou e estranhamente demonstrava sensualidade e uma luminosidade quente, pois apesar de tal idade funcionam bem tais pernas, cintilavam uns sentidos soltos revelando a personalidade de seus modelos em com cores e farelos de luas e letras... Não estava ele muito bem em sua casa. Ticiano, Ticiano! Deixe a pintora pintar, seu tempo já passou, já que o amor vem de longe, cresce no regaço do propício, chora quando liberta e ri quando se vai. “Toque o sino, Ticiano”
para a pintura de Ana Luisa Kaminski - amiga da Árvore

terça-feira, maio 15, 2007

"O banco"

"O banco da violoncelista" - escultura de Mira Serrer Rufo / 2007

"O Hospede"


Chico, o gato.
Um gato de arte é assim: recria a mandala em seu olhar.
foto de Mira Serrer Rufo

segunda-feira, maio 14, 2007

"Chegando na Árvore"


domingo, maio 13, 2007


sábado, maio 12, 2007

"em breve na árvore637"


sexta-feira, maio 11, 2007

"MEDUSA"


"AMIGOS DA ÁRVORE"

quarta-feira, maio 02, 2007

“A PATA DO ELEFANTE"

“...Apesar de os textos de “Ensaio” versarem sobre o silêncio do atelier na ausência de seu artista, quando as obras gozam de total independência e o vazio que se faz ajuda na compreenção do que sentimos ao permanecermos ali, escolhi fotos de Mira onde a presença do artista é evidente, visivel, quase postado por sobre as obras. Centrei-me nessas imagens exatamente para refletir sobre o que seria essa ausência,deixando para outra ocasião as obras recostadas...”

Ensaios – Taís Wonder Grimme - 2007

"BUSTOS"

Mira Serrer Rufo
"Andei a pensar sobre a importância da imagem captada por Mira Serrer Rufo no ateliê Árvore 637, na época em que fomos aceitas, por tempo determinado, nesse silencioso recinto para seguirmos com a idéia dos “Ensaios”. Há muito o que se ver. Há imagens atrás das imagens e as pinturas nunca são as mesmas: transmutam-se, flutuam por sobre os suportes, encaram-nos, distraem-se com nossas presenças. Lembro-me que eram frias as tardes em que por lá vagavamos sem muito saber o que fazer com aquele tempo disponível e com a ausencia do artista. Ao falarmos sobre essas coisas acontecidas, Mira e eu, descobrimos que essas descobertas foram o verdadeiro trabalho.”

Ensaios – Taís Wonder Grimme - 2007

"TENUTO"

"O que há de real na imagem que captura a arte e seu artista? Pertencente à realeza ou ao rei? Exibição, fetiche ou o resultado de um processo?
Porque o artista sem camisa, ao apresentar sua arte, incomodou tanto aos franceses? Na foto de Mira Serrer Rufo a arte cor torna-se o artista, o privilégio do momento vem em detrimento do ato de magia praticado por esse feiticeiro pintor, que ao revelar seu ato clerical muda o foco de valores imaginários e desperta a observação conceitual, mudando a linha de tensão da mensagem em cores diretamente para sua carne. Talves o artista esperasse isso mesmo, pois ao fundir-se em uma segunda imagem propiciasse a ele próprio compor uma pintura, sem ser pintado, dentro de uma outra pintura.”

Ensaios – Taís Wonder Grimme - 2007

Capa para a edição de "Ensaios",
textos reunidos para a observação da arte de Luiz Carlos Rufo
Taís Wonder Grimme - Edição da autora - tiragem limitada -
São Paulo/2007