segunda-feira, abril 23, 2007

"ELA"


"ELA"


"ELA"


"SALVE JORGE"


"Navego em sua rude nudez"

Meu eterno capitão, homem de terra, olhos de fogo, hálito de mar. Meu cabeça-de-vento. Balão cheio de ar. Por ser apenas sua, em alguns breves momentos, deixo que siga aqui, em uma linha, meus pés tirados dessas maquinetas de pescar, pirogas escavadas com a mão, sinais digitais, sem maiores peixes. Te iludo como as sereias já o fazem, mas dando-lhe uma leve visão de meu cosmo. Sou a corporificação salgada dos cascos. O mal de olhar. De frente resolvi testemunhar musicalmente a minha existência, pois sou peixe em seu aquário, minha festa é linda e modesta, agora completo meus centenários atada as rochas da minha libertação. Daqui te vejo passar. Como é lindo. Que vôo maravilhoso de pombos, meu eterno capitão.
(Luiz Carlos Rufo - trecho de "Navegar a nudez")

domingo, abril 22, 2007

"ADÃO e EVA

Você diz que tem pressa de vê-la. Ei-la! Na sua forma caminhante, na sua redondeza, na sua construção. A deselegância da hora antecipada, a espada da desaprovação sob determinada condição de entregar-se em rendição, perfaz-nos. Sendo para mim mesmo a antecipação de um amanhã sem resultados atendidos, sem admoestações, sem prefácio, mas, contudo, com solenidade. És escultura do negócio (hosanas!) cunhado em moedas, és mercador dos papéis dos sábios (hosanas!) , decorador de praxes sobre o fuste. De fato um amante da obra de outrem, pois negocias, sem penitências e antecipadamente, a ida de tão belas e rigorosas peças e de tão ilustres memórias. Há de ser assim, pois elas, as peças, devem vagar ao sabor de seus descuidos.
"Adão e Eva" - escultura de Luiz Carlos Rufo - abril de 2007

quinta-feira, abril 19, 2007

"DEZ MARIAS"
























































"DEZ MARIAS" técnica mista sobre papel - 2002 - Luiz Carlos Rufo
Coleção particular










sexta-feira, abril 13, 2007

"ATLAS..."


...era um Titan condenado por Zeus a sustentar
os céus sobre seus ombros.
ESCULTURA EM GESSO - 90cm - 2007
Luiz Carlos Rufo

Constância na prova, também com ele reinaremos.
Percebi o quanto a escultura é intrigante ao sentir-me surpreendido e desperto pela curiosidade que se faz querer entender cansativa e excepcional. Ela mancha a paisagem do estúdio, muda com o caminhar da luz do dia transformando-se em outra, uma nova mulher, no cair da noite. Exausto, pois saem dos músculos, aprisiona seus sussurros que me vêm de longe sibilando contínuo, assoprando. Ela não aceita a cor, a interpretação e o afeto fortuito. Fazendo com a mão, alimentando-se através de ferramentas, arrestando-a com olhares inopinados, inclinamo-nos a não compreendê-la de pronto escusando-lhe o perdão. Tolerando assim seu desacato, vivendo sua verdade única de presença rústica e dolorosa. Ela, a escultura, se defronta com os escurras, os carnívoros, os fumantes perdendo-se na luz, sofrendo a interrupção de um mundo perverso que se apresenta em deformidades, martirizando os semelhantes e diversos, mas vivos, através da distância hedionda de ícones perenes de filósofos, faunos e navegadores. Compreendendo-as tão vitais para as suas salvações que passei a crer nas esculturas. Tornei-me crédulo nas esculturas. Creio nas esculturas que brotam e que não nos pertencem; creio no metal, no barro e no gesso que sai dos corações videntes e alheios; creio na remissão dos pecadores ao dilatarem-se em sentimentos de misericórdia, ao inflarem-se pelas indulgências, ao tornarem-se compaixão expressa, incontestavelmente, em um nariz de mármore. Isso tudo se dá na aventura de esculpir. Ao longe vejo uma sombra. Ela se constitui de massas disformes que assumem um sentido passo-a-passo que se harmonizam e fingem representar algo ou alguém que conhecemos. Ao longe vem uma sombra e ela é branca. De longe me chega uma sombra e ela é linda pois a reconheço.
Atlas e Luiz Carlos Rufo - abril de 2007
FOTOS: Mira Serrer Rufo