segunda-feira, agosto 04, 2008


Nu, creio, quer dizer exposição. Tanto de quem vê, quanto de quem é olhado. Em signos de arte, e só sob um sistema de palavras, concordo que suas partes divinas estejam de fora, relentadas, à mostra. Pelo que observo, em termos de nu, olhando vejo que está vestida, mesmo nua. Sem visibilidade, descaradamente pudica, e o que é pior, enganando-me. Os véus de sua incerteza são como faróis coloridos de vermelhos chocantes e de amarelos irídios, piscando, denunciando sua retração, suas dúvidas, sua vontade de ser fêmea e mostrar-se sem que alguém veja começando a fazer experiências, queimando rapidamente, removendo todo o ar .
Seu nu seria sem fronteiras, arábicas, mosaicos diante dos alísios ocorrendo durante todo o ano .
Minha imaginação solicita o seu nu para as próximas coleções de monotipias azuladas. Rabiscando tudo o que é inteiro ou o que deixa a imaginação ir sobre coisas vãs, delas, as 14 aquarelas enfunadas, quatro serão afrescos arremetidos para as paredes de seu chalé construído de frente para o oceano de cor ciano opaca.
De fato não existe esse nu. Não perca o barqueiro que a transportará para o outro lado do rio que corre, perpendicular, no sertão de sua propriedade. Aqui dentro do santuário corpóreo poderei transformar essa maravilhosa experiência em painéis, esculturas, jóias, objetos e textos sagrados. Para isso basta você sentir o que está olhando, deixando sua pele morena e salgada para depois. Todos dirão linda foto. Obrigado. Sei que participei quando a corrente passa eletrizando.
Sei que seu olhar muda um pouco a cada dia, depois que falamos. Depois que se mostra sob o jato do regador.

(trecho de “Navegando em sua nudez” texto/2006 de Luiz Carlos Rufo)

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Magnífico!!!

7:08 PM  
Blogger Christiana Fausto said...

obrigada, meu capitão, por republicar tão linda poesia em forma de prosa. Grande beijo, c.

7:52 PM  

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